Casa localizada no Jardins resgata arquitetura dos anos 1930

Sede do INÁ Arquitetura em cima, bar de misturas etílicas no subsolo. Conheça a história de uma das poucas casinhas de época da cidade de São Paulo.


Sede do Iná Arquitetura em cima, bar de misturas etílicas no subsolo. Conheça a história de uma das poucas casinhas de época da cidade de São Paulo.

O que passa pela sua cabeça ao imaginar a cidade de São Paulo? São as pessoas apressadas que correm pela Avenida Paulista? São as linhas de metrô que conectam as pontas da cidade? Tudo isso (e muito mais) está certo, mas quem está de fora relaciona a cidade com os altos prédios que se amontoam pelos quarteirões e parecem crescer cada vez mais.

É impossível não querer olhar para cima e acompanhar o tamanho dos edifícios monumentais que cercam e impressionam a nossa visão. Mas o que muita gente, principalmente de fora, pode não saber é que São Paulo abriga uma diversidade arquitetônica gigantesca, formada pelos mais diversos estilos e proporções. Mas, antes do processo de modernização da cidade, quando a metrópole ainda era forte na cultura da industrialização e cultivo de café, as casinhas e os casarões estavam espalhados pela cidade.

A partir dos anos 1930, com o modernismo e o desejo de modernizar a cidade ganhando força, a arquitetura passou a se verticalizar, crescer para cima. Por conta desse processo, foram poucas as casas que sobreviveram para ilustrar essa história. Uma dessas, é a charmosa construção branca localizada no número 565 da Rua Guarará, no Jardim Paulista – que, hoje, abriga o escritório do Iná e um bar subterrâneo, o Cava Bar.

Se nossa missão é fazer casas dos sonhos cidade a fora, precisávamos de um escritório que transmitisse essa atmosfera de aconchego. Afinal, assim é o estilo das casas e apartamentos que desejamos entregar aos nossos clientes para que possam criar as suas histórias.

Passamos muito tempo escutando as histórias inspiradoras dos futuros lares das pessoas. Agora, queremos compartilhar as histórias da nossa casa com vocês. Esperamos que te inspire!

A história de uma das casas antigas que ainda resistem em São Paulo

O arquiteto Gianpaolo Granato é o atual proprietário do imóvel. A casa era do avô, um italiano que migrou para o Brasil em 1938 no último navio com destino ao Brasil, antes do estopim que resultou na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Com um jeito simpático característico seu, aplicava sua cordialidade nos negócios. Era dono de uma imobiliária e continuou trabalhando com isso até mesmo depois de se aposentar.

O sobrado residencial de dois andares com um porão com acesso pelo lado de fora caiu nas mãos dele em 1974, como forma de pagamento de um cliente. Foi prontamente incluída em seu catálogo de imóveis e, logo, começaram a surgir interessados a alugar. À moda antiga, o avô sempre buscava o aluguel de porta em porta, e vez ou outra era acompanhado pelo neto. “Quando pequeno, eu ia com ele nas férias receber o aluguel. Tomávamos café, passávamos horas conversando com os inquilinos. Eu ficava sentado na escada olhando a rua enquanto ele conversava. É uma ligação muito forte”, explica Gian.

Anos depois, agora um Gian já adolescente se lembra dos primeiros inquilinos a ocupar a casa depois de ter se tornado um imóvel comercial. Um deles foi o artista plástico e educador Daniel Azulay, muito conhecido por ter criado a Turma do Lambe-Lambe, em 1975, e por seu programa infantil na TV Cultura “Oficina de Desenho do Azulay” em que ensinava crianças a criar seus próprios brinquedos. Quando seu ateliê era abrigado aqui, foi precursor em eventos de rua: uma vez por ano, fechava o trecho da Guarará em que a casa está localizada para fazer eventos para as crianças.

Outro inquilino recebido pelo imóvel foi o dentista, o que causou alguns problemas em termos de estrutura da casa. Os espaços de consultório desses profissionais precisam ser muito bem adaptados para receber diversos tipos de cabos e suportes, o que acaba descaracterizando o espaço.

Como arquiteto, Gian ficou aliviado quando chegamos em 2018. “Por serem arquitetos, sabia que as configurações e a estética da casa seriam preservadas”, conta.

Um processo de restauro para recuperar a identidade do imóvel

Nos anos 1980, a casa passou por uma reforma que descaracterizou sua fachada. Assim, o imóvel perdeu um pouco da sua identidade original. Quando Gian se tornou o proprietário, decidiu fazer uma restauração para que a casa ganhasse de volta sua estética. “Queria fazer com que a casa ficasse o mais similar possível das proporções originais”, diz.

Gian sabe que a casa é da década 1930 por conta dos materiais que foram usadas durante sua construção, desde tipo de tijolos até o material das janelas originais. Foi durante essa época que o art décor começava a despontar pela cidade. O movimento estético é caracterizado por sua geometria apurada e pela preocupação com os detalhes decorativos.

Além disso, o layout de casas como as do Iná vinham em pares – como se uma casa inteira fosse dividida no meio, tornando-se duas em uma. Apesar de diferentes, as plantas são sempre absolutamente idênticas, a mudança acontecia apenas na fachada.

E por falar em janelas, aí vai uma história curiosa. As janelas originais da fachada, que eram de ferro, não foram preservadas pelo inquilino. “Eu não queria mandar fazer janelas novas, então procuramos uma solução alternativa”, conta Gian. Andando pela Santa Cecília, bairro onde reside, viu que uma janela original dos anos 1960 estava sendo descartada. Tratava-se de uma obra que estava reconstruindo a sede da Tradição Família e Propriedade (TFP), movimento de extrema direita católica que teve sua sede atacada em 1969. Agora, essas janelas são as que estão na fachada do Iná.

Em cada cantinho, nossa casa também tem história!

Cava Bar: o bar paulistano que funciona no subsolo da casa

Não é só o escritório do Iná que está localizado no número 565 da Guarará! Ainda durante o restauro, Gian encontrou um porão que estava escondido. Nos anos 1980 e 1990, com o boom dos automóveis na cidade de São Paulo, era importante ter espaço sobrando na garagem. Então, as escadas que descem ao porão foram tampadas.

Lá dentro, haviam salinhas que foram derrubadas e moldadas de forma que se transformasse no que, hoje, é o Cava Bar. O bar subterrâneo, que segue uma estética intimista e aconchegante, conta com um espaço pequeno ideal para desfrutar de uma cartela dos mais variados drinks clássicos. Tudo isso ao som de uma playlist recheada de música alternativa, rock psicodélico e pós-punk de diversos lugares do mundo.

“Para fazer menção aos anos 1930, utilizamos ladrilhos hidráulicos. Nos fundos, mantivemos um piso de mosaico vermelho bem característico”, explica. Abrir o bar, para Gian, foi interessante para manter a área movimentada e reaproveitar cada pedaço – ainda mais esse, que passou tanto tempo esquecido.

Em meio aos prédios, a casa simboliza resistência de uma identidade histórica

Com a constante urbanização e projetos de edifícios despontando em cada esquina, não foram poucas as propostas oferecidas a Gian para que a casa fosse vendida e, assim, derrubada. “Sou saudoso com a cidade do jeito que era antes, quando moleque vi casas lindas serem derrubadas para virar um prédio sem vínculo histórico cultural com a cidade”, explica.

Enquanto ele for dono do pedaço, essas propostas serão constantemente negadas. Para Gian, a casa é um símbolo de resistência no mercado imobiliário. Ele acredita que, com a casinha e com o Cava, ele está seguindo um caminho contrário. “A gente não quer grade alta, a gente quer as trepadeiras tomando os muros e abraçar a natureza a ficar, não expulsá-la”, finaliza.


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